"Muros de insinceridade, olhos perdidos e vazios, desapareceram quando eu te vi.
Tudo o que eu posso dizer é que foi encantador conhecê-lo."
By Selena Gomez,'
Levantar-me às nove e meia da manhã para ir ao parque, fora, definitivamente, uma má ideia. Ali estava eu, sentada no gramado, com uma maçã em meu colo e meu violão em mãos. Eu havia me esquecido que as pessoas costumavam cochilar às redondezas do local, e, definitivamente, eu esqueci de alimentar-me. Ou seja, desperdiçando minha energia ao entrar em sonhos sem antes ter comido deixou-me exausta e letárgica. Eu ofegava. Suspirei por alguns segundos, deixando explícita minha desaprovação em relação à minha ideia. Deixei o violão sobre o gramado, e fiquei analisando cada detalhe reluzente dos escritos em ouro, destacando "Martin&Co.". Encolhi meus joelhos e cruzei meus braços sobre os mesmos, fechando os olhos e colocando minha cabeça, suada e exausta, sobre meus antebraços. O cansaço vencera-me, definitivamente. Afinal, eu deveria estar maluca quando pensei em sair de casa, em pleno sábado, para ficar um minuto no parque. Aliás, de um jeito ou de outro, eu iria entrar num sonho. Merda, Selena, murmurei para mim mesma. Conta até três. Respira. Tudo vai ficar bem. E eu tentava obedecer meus comandos. Talvez aquilo realmente resolvesse, eu não sabia. Mas eu estava sozinha agora. Ninguém poderia me ajudar, pensando que aquilo pudesse ser uma convulsão ou algo do gênero. Ninguém poderia me perguntar "Selena, você está bem? Quer água?" ou similar. Eu teria que virar-me, dar um jeito na minha própria vida. Contudo, eu não me lembro de ter pedido de presente de Natal aos sete anos de idade, ter o "dom" inconveniente de entrar nos sonhos alheios. Realmente, não me recordo. Comecei a parar de ofegar, e limpei o suor mínimo em minha testa com meu pulso. Eu deveria ser extinta da sociedade.
Mordi meu lábio inferior e encarei o lugar novamente. Ele estava cheio de crianças, correndo incansavelmente de um lado para outro, brincando de algo como "pega-pega" ou até mesmo futebol. Mães e pais ficavam olhando, abismados, e mostrando ao povo, com o indicador, "Olha aí o meu filhão, como é forte!" e "A minha princesa está crescendo, olha! Daqui a pouco estará namorando!". E, por segundos, fiquei com saudades da minha época de criança. Eu cresci, simplesmente. Tive a infância retirada de minhas mãos após a morte de meus pais, aos dez anos, no ápice de minha adorável infância. Passei a morar sozinha, desde já. E eu ainda me sentia fraca. Analisei a maçã, em meu colo, com a parte inferior dos olhos, e peguei-a, com meus dedos. Dei uma mordida na mesma, mastigando-a impacientemente. Minha fraqueza ansiava por energia, e eu não aguentava um minuto sequer com aquele cansaço preenchendo meu corpo. Minha cabeça doía, e meus olhos enxergavam mal. Eu já mencionei que odeio entrar em sonhos?
Posicionei-me novamente da maneira como eu estava, desta vez, com meus fones de ouvido. Eu ouvia Enchanted, silenciosamente, de olhos fechados, com a testa sobre meu antebraço. Eu movimentava meus lábios suavemente, murmurando trechos da música, para mim mesma, e movia minha cabeça de acordo com o ritmo da canção. Ouvir música relaxava meus músculos, principalmente após invadir os sonhos alheios. Aquilo me cansava, aumentava meus batimentos cardíacos, e me deixava exasperada, ainda mais quando eram pesadelos. Anteriormente, entrei no sonho de um pequenino garoto, que corria atrás de um cachorro, no sonho, feliz e sorridente. Regojizei baixinho por não ter sido um pesadelo, graças a Deus. Depositei o que restava de minha maçã na grama, sem ao menos enxergar, por estar com os olhos cerrados. A melodia da canção preenchia meu ser, e relaxava-me por completo. Meus converse's batiam sobre a grama intensamente, por, simplesmente, adorar aquela canção. Os sons, levemente abafados, do violão realmente me seduzia. Apesar de eu não saber tocá-lo de forma profissional, eu sabia tocar aquela canção, e eu a amava.
Senti alguém cutucar meu braço suavemente com o indicador. Involuntariamente, levantei minha cabeça de forma letárgica, com os olhos semi-cerrados, por conta da luminosidade do sol. Ali vi Justin Drew Bieber (polyvore aqui), dando um meio sorriso, demonstrando certa preocupação. O rapaz é meu vizinho, sempre o vejo passar e digo "oi", mas nada passa disso, ou seja, quase não conversamos. Estudávamos juntos também, porém quase não trocávamos monossílabos, demonstrando uma amizade quase inexistente. Retirei meus fones, para melhor escutar o que ele tinha a dizer.
-- Hey, Selena. -- Disse ele, coçando a parte de trás de sua cabeça, coberta pelo gorro de cor cinza -- Ér... Eu vi você meio trêmula e... bem, aconteceu alguma coisa?
Pronto. Era evidente que ele havia visto o meu explícito "oi, estou entrando num sonho e irei enlouquecer em três, dois, um" e deveria ter ficado preocupado. De certa forma, gelei por dentro, já que nada demais acontecera, exceto a parte de ser alguém anormal e entrar em sonhos.
-- Oh. -- Foi uma das primeiras coisas que saíram de minha boca -- Na verdade, não. -- Dei um sorriso, sem mostrar os dentes. -- Nada demais aconteceu, só uma dor de cabeça passageira, é isso.
-- Ah, que bom... -- ele parou abruptamente, e voltou a dizer com explícito arrependimento -- NÃO! Q-quer dizer, é bom que só seja isso, afinal, v-você...
-- Eu estou bem, Justin -- eu ri, vendo-o encontrar-se naquela situação -- E você, como está?
-- Bem, também... -- ele sorriu, olhando para o chão. -- Bom, eu tenho que ir. Ér, tchau!
-- Tchau! -- vi-o locomover-se, até sair totalmente de vista.
(Continua...)
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